O texto a seguir foi traduzido do original por César Rodriguez. Original disponível em https://webfoundation.org/about/vision/history-of-the-web/ (consulta em 24/09/2019).
Não estranhe se alguma parte da página ainda estiver em inglês (certamente é a que está sendo trabalhada no momento), ou se os links forem para páginas em inglês (se forem os artigos centrais, serão traduzidos no futuro).
Sir Tim Berners-Lee inventou a World Wide Web em 1989.
Sir Tim Berners-Lee é um cientista da computação britânico. Ele nasceu em Londres, e seus pais eram das primeiras gerações de cientistas da computação, trabalhando nos primeiros computadores.
Ao crescer, Sir Tim se interessava por trens e tinha um ferromodelo de ferrovia em seu quarto. Ele relembra:
“Eu fiz alguns apetrechos eletrônicos para controlar os trens. Daí terminei ficando mais interessado por eletrônica do que por trens. Depois, quando fui para a faculdade, eu fiz um computador usando uma televisão velha.”
Após graduar-se pela Universidade de Oxford, Berners-Lee tornou-se um engenheiro de software no CERN, o enorme laboratório do acelerador de partículas próximo de Genebra, Suíça. Cientistas vinham do mundo inteiro para utilizar os aceleradores, mas Sir Tim percebeu que eles tinham muita dificuldade em compartilhar as informações.
“Naquela época, havia informações diferentes em computadores diferentes, e era necessário logar em computadores diferentes para acessar a informação. Além disso, às vezes era obrigatório aprender um programa diferente para lidar com cada computador. Não era incomum que as pessoas achassem mais fácil perguntar umas às outras enquanto estavam tomando um cafézinho…”, diz Tim.
Tim pensou ter encontrado uma forma de resolver esse problema — uma forma que ele percebeu que poderia ter aplicações muito mais amplas do que aquela. À época, milhões de computadores já estavam conectados pela internet, que evoluía rapidamente, e Berners-Lee percebeu que eles podiam compartilhar informações se utilizando de uma tecnologia emergente chamada hipertexto.
Em março de 1989, Tim colocou no papel sua visão do que poderia ser a web, em um documento chamado “Gerenciamento de Informações: Uma Proposta” (em inglês, “Information Management: A Proposal”). Talvez você não acredite, mas a proposta inicial de Tim não foi aceita de imediato. Na verdade, seu chefe na época, Mike Sendall, apôs a avaliação “Vago, embora promissor” na capa. A web nunca foi um projeto oficial do CERN, mas Mike conseguiu dar a Tim tempo para trabalhar nele em setembro de 1990. Ele começou o trabalho usando um computador NeXT, um dos primeiros produtos de Steve Jobs.
Em outubro de 1990, Tim já havia escrito as três tecnologias fundamentais que até hoje são a base da web (e que você possivelmente já viu aparecerem em algumas partes do seu navegador):
- HTML: HyperText Markup Language (linguagem de marcação de hipertexto). A linguagem de marcação (formatação) usada na web.
- URI: Uniform Resource Identifier (identificador uniforme de recurso). Um tipo de “endereço” que é único e utilizado para identificar cada recurso disponível na web. Também é comumente chamado URL [n. do t.: nesta segunda sigla, L significa Locator, ou localizador].
- HTTP: Hypertext Transfer Protocol (protocolo de transferência de hipertexto). Permite recuperar recursos linkados web afora.
Tim também escreveu o primeiro editor/navegador de páginas da web (o “WorldWideWeb.app”) e o primeiro servidor web (o “httpd“). Em fins de 1990, a primeira página web foi aberta ao público na internet e, em 1991, pessoas de fora do CERN foram convidadas a ingressar nessa nova comunidade, a web.
Quando a web começou a crescer, Tim percebeu que seu máximo potencial só sairia da jaula se qualquer pessoa em qualquer lugar pudesse utilizá-la sem ter que pagar nenhuma taxa ou pedir permissão a ninguém.
Ele explicou: “Se a tecnologia tivesse sido proprietária e ficado nas minhas rédeas, ela provavelmente não teria deslanchado. Você não pode propor que um espaço seja universal e ao mesmo tempo manter controle sobre ele”.
Por isso, Tim e outros envolvidos militaram para garantir que a CERN concordasse em tornar o código subjacente disponível independente de royalties, para sempre. Essa decisão foi anunciada em abril de 1993, e encetou uma onda global de criatividade, colaboração e inovação nunca antes vista. Em 2003, as empresas que estava desenvolvendo novos padrões para a web se comprometeram com uma Política Livre de Royalties por este trabalho. Em 2014, o ano em que celebramos o 25º aniversário da web, cerca de duas em cada cinco pessoas ao redor do globo a utilizam.
Tim saiu do CERN e foi para o Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) em 1994, para fundar o World Wide Web Consortium (W3C), uma comunidade internacional devotada a desenvolver padrões abertos para a web. Ele é diretor do W3C até hoje.
A comunidade inicial da web produziu algumas ideias revolucionárias que agora estão se espalhando muito além do setor de tecnologia:
- Descentralização: Não há necessidade de nenhuma permissão de uma autoridade central para postar nada na web; não há um ponto central de controle, e consequente não há um gargalo ou ponto crítico… nem um botão de desligar! Este princípio também implica liberdade quanto a cesura ou vigilância indiscriminada.
- Não-discriminação: Se eu pagar para conectar à internet com uma certa qualidade de serviço e você paga, quer pela mesma qualidade, quer por uma superior, então nós podemos nos comunicar no mesmo nível. Este princípio de igualdade também é conhecido como Net Neutrality (neutralidade da rede).
- Design de Baixo para o Topo: Em vez de os códigos serem escritos e controlados por um pequeno grupo de peritos, ele foi desenvolvido à vista de todos, encorajando o máximo de participação e experimentação.
- Universalidade: Para permitir que qualquer pessoa possa publicar o que bem entender na web, todos os computadores envolvidos têm que falar as mesmas linguagens uns com os outros, a despeito de terem diferentes hardwares, dos usuários viverem em locais diferentes ou de terem culturas e crenças políticas diferentes. Desta forma, a web desfaz feudos ao mesmo tempo em que promove a diversidade.
- Consenso: Para padrões universais funcionarem, todo mundo tem que concordar com o uso. Tim e outros envolvidos atingiram este consenso dando voz a todos quando da criação de padrões, através de um processo transparente e participativo na W3C.
Novas combinações dessas ideias estão dando azo a novas abordagens promissoras em campos do conhecimento extremamente diversificados, como o gerenciamento de informação (Open Data), a política (Open Government), a pesquisa científica (Open Access),a educação e a cultura (Free Culture). Todavia, até hoje nós não conseguimos senão arranhar superficialmente as formas como esses princípios poderão mudar — para melhor — a sociedade e a política.
Em 2009, Sir Tim fundou a World Wide Web Foundation (Fundação World Wide Web). A Web Foundation faz progredir a Open Web com o objetivo de construir uma sociedade justa e pulsante, através da conexão de todos, proliferando vozes e aumentando a participação.
Por favor, explore nosso site e nosso trabalho. Nós torcemos para que você se inspire pela nossa visão e resolva participar. Lembre-se: como Tim tuitou durante a cerimônia de abertura das olimpíadas de 2012, “Isto é para Todos”.
Nota importante: Esse texto pretende ser apenas uma introdução rápida à história da web. Para maiores detalhes, você pode dar uma lida em:
- Uma Pequena História da World Wide Web
- 10º Aniversário do W3C (linha do tempo)
- “Tecendo a Rede” por Tim Berners-Lee
- Frequently Asked Questions e Respostas para Pessoas Jovens, by Sir Tim Berners-Lee, no site do W3C.